'Tomem as
rédeas de suas vidas' e 'Vivam, cada um é dono da sua trajetória' foram algumas
das lições deixados por Larissa Andressa Medeiros, de 40 anos
Foto: Reprodução
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Larissa Andressa Medeiros, tinha 40 anos |
Larissa Andressa Medeiros, uma catarinense de 40 anos, deixou uma lição
de vida durante seu tratamento contra o câncer de mama. A médica morreu no dia
22 de dezembro, conforme o Sindicato dos Médicos do Estado de Santa Catarina
(Simesc).
O conteúdo da carta deixada por ela com os aprendizados,
reflexões e agradecimentos, foi postado nas redes sociais e ganhou destaque nos
últimos dias após viralizar na internet ao ser compartilhado por centenas de
pessoas.
Por meio de nota, o Simesc lamentou o falecimento da
médica, que ocorreu em Curitiba (PR).
Segundo o sindicato, o relato da carta foi feito poucos dias antes dela morrer.
Nascida em Lages, na
Serra catarinense, Larissa era casada e atuava no hospital das Clínicas da
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ela formou-se em 2001 em Medicina pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi filiada ao Simesc até 2013,
quando mudou para a capital paranaense, onde seguiu na atividade profissional
na área da Hematologia, com destaque para a atuação na área do transplante de
medula óssea.
Leia a carta:
“Querida família!
Ando mais reflexiva e ausente…
tem sido dias difíceis. Pensei na morte, mas vi um documentário da minha
incoerência, já que é a coisa mais certa… pedi a Deus uma 2ª chance ou força p
entender se ele tiver outro propósito.
Vou fazer um pedido aqui:
– Hoje minhas chances de cura
são menores do que as de sucesso! Luto por 10% de cura! Sem drama, é um fato!
– Quero e vou vencer, com a
ajuda de Deus e Nossa Senhora, sem as estatísticas dos homens!
Mas queria com muito carinho
que se lembrem das coisas que estou aprendendo…
– Hoje ter 1, 2, 5 ou 20
milhões num banco, ter um bilhete de viagem maravilhosa, um vestido lindo ou
poder ir em restaurantes incríveis... um bom vinho, um doce delicioso… NADA
disso eu poderia usufruir agora. Não mudaria minhas chances ou acessos aos
remédios, não teria pique e disposição para viajar (não posso me ausentar por
mais de 15 dias pela quimio, que tem dado muitas reações extras), não posso
beber, comer muitos doces… e não tenho ânimo físico para usar um lindo vestido
com alegria…
A vaidade de
crescer cientificamente, ganhar algo na profissão, prestígio? Nada fica… perdi
tanto tempo com isso… fui tão tola em vários aspectos… só o carinho dos amigos
colegas e pacientes que o trabalho trouxe… Mas claro que não serei hipócrita:
Trabalhar, responsabilidades, ter economias… são coisas importantes, mas NÃO
são mais do que viver o hoje… ter conforto, usufruir das boas coisas da vida
valem a pena… Já viver sempre esperando um futuro que pode não chegar, isto é
ir morrendo aos poucos.
Então, o que ficou
e o que mais me alegra? As boas lembranças dos momentos e experiências que
vivi… as risadas, os carinhos, a alegria das viagens que tanto gostava, da
comida gostosa fosse caseira ou de um bom restaurante… os sentimentos
verdadeiros e o amor puro da família e tantos amigos queridos que redescobri.
Sei que nada será
tão palpável como é para mim que precisei passar por isso para ter tanta
clareza de pensamentos… ouvia isso dos padres mas não coloquei em prática…
Gostaria q
experimentassem sem ter que passar por algo ruim para mudar:
– Brigas,
reclamações, vaidades, conflitos… acontecem mas deixam o ar muito pesado, sugam
nossa energia e não levam a nada. Transformam a reunião alegre em algo
desagradável. Amor, perdão, paz, alegria renovam tudo.
– Nós sendo filhos,
noras e genros, pais, irmãos, casais, todos iremos errar… escolher o caminho
tem esse desfecho: de acertar ou errar. E errar tem o aprendizado, só o erro
traz essa graça de aprender e mudar! Não aprendemos com os erros alheios
infelizmente. Os acertos infelizmente também não trazem esse conhecimento todo,
por ironia… ninguém sabe o que é certo… o certo para mim não é para os demais.
Vamos conviver em
paz, respeitar a individualidade das pessoas, dos casais, mesmo não sendo nossa
opinião. Vamos celebrar a vida, ter prazer nos encontros, evitar brigas ou
assuntos pesados. Queria que todos que puderem começassem a passear, viajar,
praticar a leveza no dia a dia. Quem quiser ir, voltar, sair, ficar, silenciar…
siga seu coração… decida por si… não esperem permissão para serem felizes. Só
quem pode nos autorizar somos nós mesmos.
– [Nome do marido],
meu amor, tem me ensinado muito também… foi um ano terrível para nós… muitas
concessões, ajustes… mas nosso amor tem aprendido a ser laço de fita, não e
nunca NÓ… nos respeitamos, apoiamos, nos incentivamos mutuamente… se você está
estressado, volta da corrida, leve, com o sorriso mais lindo no rosto e só traz
boas energias para mim. Não fala nada pesado, não fala de ninguém, sempre
positivo, o melhor companheiro que eu poderia ter… meu amor ❤! Muitas vezes discordamos, queremos coisas diferentes,
mas aprendemos a respeitar a decisão do outro sem perder tempo tentando
convencer a nossa maneira… acho que ganhamos mais amor e respeito! Amor não é
posse ou prisão, é liberdade e respeito.
Sei q ainda temos
muito a aprender… mas acho q estamos no caminho, entre acertos e erros.
– Tenho vontade de
gritar, para todos que quero bem: “Tomem as rédeas de suas vidas… viajem,
namorem, comprem com responsabilidade o que lhes dá prazer… a vida é HOJE!! Só
hoje!!! Viagens, comer num lugar gostoso, comprem a roupa bonita que querem.
Não sabemos se
viveremos até o futuro… se gozaremos da aposentadoria… se teremos saúde e ânimo
p aproveitá-la! Vivam, vivam, cada um é dono da sua trajetória… e a vida dará
em troca, amor verdadeiro, grandes amigos que farão parte da família… e muito
boas memórias”.
O G1 SC conseguiu
o contato com a família às 13h45 deste domingo (30) e informou que por conta da
perda estão consternados e preferiu não comentar sobre o assunto.
G1 SC