O Brasil não vive seu recorde de queimadas na Amazônia,
mas o que o Inpe alerta é que os números são os maiores já registrados desde 2010
para o período de janeiro a agosto
Foto: Divulgação
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Fumaça teve origem nas queimadas nos estados do Pará e Rondônia |
Preservar o meio ambiente é
algo que tentam ensinar ao ser humano desde criança. No Brasil, uma das maiores
defesas, sem dúvida, diz respeito à Amazônia, que chegou a ser chamada de
‘pulmão do mundo’. O conceito, equivocado, já foi desmentido por cientistas,
mas permanece no imaginário popular. Talvez como uma forma de valorizar ainda
mais o que já é riquíssimo. Esse sentimento de orgulho nacional, no entanto,
não é compartilhado por um pequeno e favorecido grupo de pessoas.
Fazendeiros da região são
suspeitos de praticarem, ao longo de décadas, desmatamentos ilegais na região
amazônica. O assunto voltou a tona nas últimas semanas, desde que foi
verificado aumento de queimadas. Fotos de fogo se espalhando pela floresta
preocuparam o mundo.
O geógrafo e professor da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) Hermes Alves de Almeida aponta que a
Amazônia é importante não somente para o Brasil, mas para todo o planeta. Um
estudo divulgado no ano passado pela
Universidade de São Paulo (USP) apontou que o bioma é um dos
maiores estoques de carbono em ambientes terrestres do mundo.
“Essa
é uma questão global. O mundo assiste a essas queimadas de forma muito
apreensiva, mas é importante destacar que elas sempre ocorreram. Algumas vezes,
por questões climáticas. Outras, por interferência humana. Embora não estejamos
diante de uma catástrofe iminente, é muito importante que políticas públicas de
preservação sejam implementadas. O ideal é que o desmatamento e,
consequentemente, as queimadas diminuam urgentemente.”
A Amazônia também é uma grande reguladora do clima.
Diariamente ele fornece um elevado volume de umidade para a atmosfera, fazendo
nascer o que convencionou-se chamar de rios voadores, que distribuem chuvas de
Norte a Sul do país e chegam até mesmo a outros países, como Argentina e
Uruguai. Quando há desmatamento, a floresta passa a emitir gases do efeito
estufa, que têm poder de alterar o clima e causar secas extremas ou tempestades
e enchentes severas.
É muito
difícil dimensionar todos os danos causados ao planeta em caso de completa
destruição da Amazônia, até mesmo para especialistas. Ocupando quase metade do
território brasileiro, ela é a maior floresta tropical do planeta e abriga a
maior biodiversidade, com um terço das espécies da Terra.
O Brasil não
vive seu recorde de queimadas na Amazônia, mas o que o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), responsável pela medição, alerta é que os números
são os maiores já registrados desde 2010 para o período de janeiro a agosto. Em
oito meses, foram identificados foram 71.497 focos de incêndio. A título de
comparação, no ano passado, durante o mesmo período, foram 39.194. A série
histórica do Inpe começa em 1998. Após a divulgação dos dados referentes ao ano
de 2019, uma crise se instaurou e o diretor do instituto, Ricardo Galvão,
acabou exonerado.
Imagens chocam
Apesar de
não serem as maiores da história, as queimadas chocam brasileiros e
estrangeiros. No dia 17, imagens de uma imensa nuvem de fumaça sobre boa parte
do oeste da América do Sul causou espanto.
O registro
foi feito pelo Satélite Meteorológico Geoestacionário GOES-16, operado pelo
National Oceanic and Atmospheric Administration, dos Estados Unidos. Várias
personalidades públicas têm se manifestado nas redes sociais contra o
desmatamento, desde o início de agosto.
O que diz o governo
Sobre a
comoção internacional em torno do caso, o ministro-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional, general Augusto Heleno, argumenta que há “cobiça” por
conta das riquezas naturais brasileiras.
“É
irresponsável acharmos que a Amazônia não é objeto de cobiça internacional. O
mundo tem uma crise, e ela é vastamente comentada, uma crise de alimentos, uma
crise de matéria-prima, de commodities“, disse ele. “A Amazônia é vista como um
depósito de futuras conquistas do ser humano. Então, é óbvio que há ambições claras
em relação à Amazônia”.
Augusto
Heleno reconheceu que é necessário dar atenção à conservação da floresta
tropical, mas disse que as preocupações internacionais foram demonstradas de
forma exagerada.”Não podemos aceitar que o Brasil seja difamado mundialmente
por uma jogada política, por interesse de um político, que não é o interesse
nem do seu país nem o interesse da Europa.
Na
quinta-feira (29), o governo federal suspendeu, por meio de decreto publicado no
Diário Oficial da União, a prática de queimadas no país por
60 dias. Ainda não há confirmação de tendência à extinção do
fogo na Amazônia, mas o governo acredita que a Operação Verde Brasil, que reúne
várias agências no combate aos incêndios seja positiva.
Portal Correio