Queimadas na
região central-sul da África combinadas com um panorama climático favorável
podem ajudar a entender o fenômeno, explica Humberto Barbosa, da Universidade
Federal de Alagoas
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Fumaça vinda da África chega a Natal - Foto: Lapis/Reprodução |
Moradores
de Natal foram às redes sociais para relatar um forte cheiro de fumaça, que foi
sentido entre a noite de quinta (4) e a manhã desta sexta-feira (5) em
diferentes bairros da capital. Apesar disso, o Corpo de Bombeiros do Rio Grande
do Norte não registrou nenhuma ocorrência de incêndio na cidade, o que intrigou
os natalenses.
A
explicação para este fenômeno pode estar bem distante da capital potiguar, mais
precisamente na região central-sul da África. Isso porque nesta época do ano
são registrados pontos de queimadas nas florestas de Angola, Zâmbia e
principalmente no Congo. Esse evento combinado com o deslocamento da alta
subtropical do Atlântico Sul seria o responsável pelo cheiro de fumaça sentido
em Natal. O fenômeno pode inclusive agravar problemas respiratórios.
Além
do Corpo de Bombeiros, a reportagem do G1 consultou a Defesa Civil, que também
não atendeu a nenhum chamado no período, e ouviu especialistas para explicar a
fumaça misteriosa. Os meteorologistas Gilmar Bristot e José Espínola disseram
que apuram o fenômeno.
"Senti
esse cheiro por volta de meia-noite. Minha vizinha é fumante então pensei que
pudesse ser ela. No grupo de WhatsApp alguém perguntou 'estão sentindo cheiro
de fumaça?' e eu achei estranho porque esse amigo mora a uns três quilômetros
daqui. Logo depois vi que tinha muita gente falando disso em outros
bairros", conta o servidor da UFRN Hudson Medeiros, que mora em Neópolis,
zona sul da capital.
A
psicóloga Raíssa Nóbrega, que mora em Petrópolis, na zona leste da cidade,
também percebeu o cheiro. "Vi as pessoas comentando no Twitter e fui ver
se sentia. Achei que era um incêndio forte, mas ninguém relatou nada. Acordei
minha mãe e tudo para fechar as janelas", diz.
O
fenômeno também surpreendeu o geofísico espacial e coordenador-geral da Rede
Nordeste Aeroespacial, José Henrique Fernandez. Morador de Candelária, na Zona
Sul de Natal, o professor inicialmente considerou a hipótese de que alguma
fogueira teria sido acesa na região. Após os diversos relatos, José Henrique
também passou a estudar o caso.
Explicação
A
explicação científica para o cheiro de fumaça misterioso veio do Laboratório de
Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal
de Alagoas (UFAL). O professor e coordenador do Lapis, Humberto Barbosa,
explicou que o cheiro de fumaça pode ser entendido a partir da combinação de
dois componentes.
"A
parte central africana, principalmente no Congo, nessa parte do ano começa a
ter um aumento das queimadas. É um processo natural, mas tem ano que isso é
mais intenso. No entanto, isso sozinho não estaria fazendo com que esse mau
cheiro chegasse a Natal. O outro componente é alta do Atlântico Sul, que é um
sistema de circulação. Essa circulação está em alto nível levando um pouco
dessa fumaça para a região próxima de Natal", detalha.
De
acordo com o professor, a alta do atlântico sul funciona como uma espécie de
ventilador empurrando as partículas de fumaça para a costa natalense. Ainda
segundo Humberto Barbosa, as queimadas na África, assim como em todo o mundo,
são majoritariamente induzidas por processos de desmatamentos, agricultura e
práticas agrícolas.
Com
os ventos de sudeste mais intensos que transportam as partículas de fumaça das
queimadas, a situação climática permanece favorável e novos eventos semelhantes
poderão acontecer na capital. "Forma-se um corredor ou esteira de
partículas que estão saindo da África para Natal em função das condições
meteorológicas", completa.
As
partículas reduzem a qualidade do ar e podem provocar problemas respiratórios
para quem sofre de asma e rinite, por exemplo. "São partículas perigosas,
muito finas, invisíveis, não tem como enxergar. É preciso ter cuidado",
orienta o professor.
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